«A bíblia da carreira» é o novo livro da psicóloga e consultora Cassiana Tavares, e serve de guia prático para transformar o trabalho, evitar o burnout e atingir o sucesso. A RHmagazine foi falar com a psicóloga e autora para perceber em que medida se torna crucial esta transformação do trabalho, bem como o que falta dominar no teletrabalho e que conselhos pode um profissional seguir de forma a levar uma vida laboral mais proveitosa e tranquila.
O livro torna-se relevante não só para quem entrou recentemente no mundo do trabalho, mas também para quem pretende tirar melhor partido da sua vida profissional, ou ainda enveredar por uma nova carreira. Neste guia, Cassiana Tavares, especialista em Psicologia do Trabalho, convida-o a refletir sobre as mudanças que deseja incorporar e sobre como combiná-las com o atual mercado de trabalho.
Cassiana Tavares acompanha jovens e adultos no seu desenvolvimento pessoal e profissional e lidera projetos de consultoria empresarial. É ainda coordenadora científica e docente em formações avançadas em Psicologia do Trabalho e Gestão de Recursos Humanos no Instituto Português de Psicologia e Outras Ciências (INSPSIC).
BC: Na capa desta obra lê-se que este é um guia prático para «transformar o trabalho, evitar o burnout e ser bem sucedido». Transformar o trabalho em que sentido? E porque é importante haver essa transformação?
CT: O papel de um profissional é ser um agente de transformação do seu meio. Como dizia uma amiga, «ninguém quer ser um tarefeiro«. Isto porque o trabalho é vivo: há desafios imprevistos; mudam-se os sistemas de produção, a oferta de serviços ou de produtos; e há, claro, a pressão da digitalização. Para trabalharmos bem, com resultados, temos de poder transformar o trabalho, ou seja, mudar as nossas ações e os processos, à medida que nos deparamos com as situações novas. Ou então, temos de poder resolver problemas e erros que impedem a performance e até prejudicam o bem-estar das pessoas.
O desafio dos profissionais e das organizações é criarem um ambiente em que há espaço para a recriação do trabalho. De forma constante. Um trabalho que não muda é um trabalho morto.
O que queremos é transformar o trabalho, num movimento dinâmico, ao longo do tempo. Sem grandes cortes, de preferência.
Acompanha jovens e adultos no seu desenvolvimento pessoal e profissional e lidera projetos de consultoria empresarial. O que tem visto nas empresas – e também junto dos trabalhadores – foi o que despoletou esta necessidade de criar este guia prático?
O pedido da editora, neste caso, na pessoa da Marta Miranda (diretora editorial da Manuscrito), foi escrever um livro que transportasse a mensagem «já chega de odiar o trabalho». Estávamos a 26 de março de 2020. A pandemia e a incerteza foram pano de fundo e, por isso, incluímos o teletrabalho, mas os outros temas vêm da experiência no terreno. E o que percebo é que há muitas preocupações com o bem-estar, com a capacidade de adaptação, com o que mantém afinal as pessoas motivadas e alinhadas num projeto, e depois com o acumular do cansaço que já vinha antes da pandemia. Para estes temas há muitas respostas, mas são, na maioria das vezes, desligadas da realidade das pessoas. São abordagens top down pouco assertivas no que toca ao que as pessoas realmente fazem todos os dias. Por exemplo, o treino de competências no abstrato, quando o que nos interessa é perceber na situação de trabalho como se resolve afinal os desafios. Isso é que enriquece a pessoa e transforma o trabalho em algo novo e melhor.
Também vejo que nos falta, como profissionais, assumirmos a responsabilidade em viver bem o trabalho, para podermos viver bem a vida.
Por isso, contruímos sete blocos de conhecimento para que o profissional possa pensar por si próprio sobre a maneira como vive a carreira e sobre como pode vivê-la com melhor desempenho e saúde.
Em forma de resumo de alguns pontos que aborda neste livro, que conselhos pode deixar a quem pretende levar uma vida profissional melhor, mais proveitosa e tranquila?
Conselho um: aprender a pensar o trabalho. Não viver em automático e fazer de determinada forma porque sempre se fez. Ter ideias próprias, ser crítico e falar sobre o trabalho em equipa e com a liderança. Isso é ser um agente de transformação. Claro que isso depende muito do espaço que lhe dão. Mas o simples exercício de se manter empenhado em melhorar o que faz contribui para aprender e para a saúde.
Conselho dois: ter os pés na terra. Saber mesmo quais são os seus objetivos/tarefas e os recursos que tem. Há sempre uma diferença entre o que nos dizem que é o nosso trabalho e depois o que realmente fazemos. Para podemos evoluir, temos de ter os pés bem assentes na terra e perceber: «eu faço isto, logo, é aqui que tem de haver melhorias». Não nos adiantam mantras ou tag lines bonitos para termos sucesso. Temos de ser muito assertivos a agir. Daí termos analisado muito bem o teletrabalho. Para quem é que é possível? E o que é preciso para se ser bem-sucedido? Não é só trazer o portátil e o smartphone para casa.
Conselho três: levar a saúde a sério. As carreiras são longas, e em Portugal apenas 50% do trabalhadores acredita que é capaz de fazer o seu trabalho aos 50 anos, contra os 71% da EU (dados da Agência Europeia para a Segurança e Saúde). Isto diz-nos muita coisa. Quando ainda nos faltarem mais de vinte anos de trabalho, queremos mesmo sentir-nos incapazes? Não pode ser. E a saúde não é só o trabalho. De forma global, como cuidamos de nós?
Conselho quatro: segurar o fio da carreira. Sermos conscientes de que o que estamos a fazer agora é a nossa pegada no mercado; que há um fio condutor entre o passado, o presente e o futuro; que podemos acumular experiência e aprender competências que nos permitam construir uma carreira coerente; e que se sentirmos as coisas escaparem-nos, temos de rever a nossa situação e tomar decisões.
Conselho cinco: deixar uma boa pegada no mercado. As nossas candidaturas, as nossas entradas e saídas do mercado são pegadas que deixamos. Devemos zelar por esses momentos. E as redes sociais e o nosso CV devem espelhar quem somos e revelar essa pegada no mercado.
Considera que as temáticas do burnout, chefes e colegas tóxicos, falta de equidade, entre outras que refere na obra, são temáticas que tomam um relevo significativo principalmente agora, em contexto pandémico?
A pandemia tem o poder de exagerar as injustiças do mercado. Quem está em teletrabalho pode ser mais pressionado a ser produtivo. Como há redução de pessoas, há sobrecarga. Como há momentos de desorganização, há mais exposição ao erro. Mas também há pessoas que estavam em situações de mobbing e ficaram protegidas com o teletrabalho. Eu preferia focar-me nas condições do trabalho.
No momento atual, que condições temos para a equipa cumprir as suas metas? Vamos precisar de ter objetivos, de ter meios, de ter muita comunicação para realinhar situações e continuar a inovar num contexto adverso.
Nós chamamos a esta temática, no livro, «as incompetências do século XXI». São fenómenos que encontram espaço nos meios de trabalho (tenho o equipamento certo?), nos estilos de gestão (presente ou laxista), e nas dinâmicas de grupo (há pessoas alienadas?). Como a incerteza é maior na pandemia, precisamos de ser muito proativos na revisão constante do que está a acontecer nestas três dimensões. E esta é uma mensagem que quero deixar principalmente aos líderes. O líder tem a capacidade de promover, ou não, a segurança psicológica no trabalho.
O livro inclui dicas para se fazer um bom CV e para «dominar» o teletrabalho, citando. Relativamente ao teletrabalho, o que falta «dominar», na sua opinião?
2020 foi uma prova enorme que muitas pessoas superaram com sucesso! Estamos de parabéns pela luta que demos a este tão grande desaire. Agora, já podemos começar a trabalhar a sério no teletrabalho.
Porque, de facto, não é a tecnologia que nos permite o teletrabalho. Repare que nós usamos tecnologia todos os dias nas nossas organizações. Transferir o trabalho para casa altera as dinâmicas de grupo, a partilha do conhecimento, a nossa forma habitual de produzir.
Mesmo com as melhores ferramentas de colaboração há que encontrar em equipa e individualmente a melhor maneira de o fazer.
E depois, claro, o teletrabalho está muito dependente do que, à data de hoje, temos autonomia para fazer a partir de casa. De todos os estudos que li (e, acredite, foram mesmo muitos), e confrontando com a consultoria e a consulta psicológica, a autonomia na realização do trabalho é o fator crítico para podermos estar em teletrabalho. Autonomia para definir as tarefas, os objetivos, a agenda.
Penso que há muita margem aqui e, ainda por cima, temos a possibilidade da solução combinada entre dias presenciais e dias à distância. O mais importante é que se aprenda em contexto: no que eu faço, no que a minha equipa faz e através de que meios, e de que dinâmica e estilo de liderança precisamos para fazer o trabalho à distância funcionar?
Por Beatriz Cassona
Este artigo foi publicado originalmente na RHmagazine
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